Muitos adultos vivem em função da aprovação dos pais, mesmo sem perceber. Essa necessidade pode não estar ligada à dependência financeira, mas a uma profunda dependência emocional. O que faz com que um adulto, consciente e independente, ainda busque o aval dos pais para tomar suas próprias decisões? Muitas vezes, essa urgência em agradar vem de experiências que começaram na infância.
Imagine, por exemplo, uma criança que expressa um desejo ou necessidade e é invalidada: “Pai/Mãe, estou com fome”, e recebe como resposta: “Não está não, você acabou de comer. E se insistir, vou brigar com você.”. Quando situações como essa se repetem, a criança aprende a desconfiar de si mesma e começa a acreditar que suas percepções e sentimentos são “errados”. Ela pode crescer acreditando que precisa da aprovação dos pais em quase tudo, internalizando o medo de ser rejeitada.
Esse padrão se estende à vida adulta. Essa pessoa passa a buscar constantemente o reconhecimento dos pais, como forma de garantir que suas escolhas são “certas” e que ela não será rejeitada. Com o tempo, torna-se difícil distinguir suas próprias vontades das expectativas impostas pela família.
No contexto da constelação familiar, essa busca incessante pela aprovação pode ser vista como um desequilíbrio nos laços familiares. A constelação nos ajuda a olhar para esses padrões herdados, entender o que motiva essa necessidade e, aos poucos, soltar as amarras emocionais que nos prendem. A ideia não é romper com os pais, mas renunciar ao peso da necessidade de agradá-los a todo custo.
Esse processo de libertação emocional, muitas vezes, exige coragem para questionar e reavaliar padrões familiares profundamente enraizados. A terapia – especialmente as abordagens que consideram a história familiar, como a constelação – é um espaço seguro para isso. Ali, é possível compreender melhor o impacto desses padrões e trabalhar para construir um relacionamento mais saudável e autônomo consigo mesmo.
Renunciar à necessidade de agradar os pais é um ato de maturidade e amor-próprio. Não significa desrespeito ou indiferença, mas sim, respeito à própria jornada e à singularidade de ser quem somos.